Entrevista: Sustentabilidade e consumo em Fast-Fashion
- Bárbara Bento
- 25 de out. de 2021
- 3 min de leitura
Indo além dos prazos atuais curtíssimos para produção de roupas, a C&A anunciou em junho de 2021, o lançamento do projeto “Alerta Tendência”, iniciativa que objetiva disponibilizar coleções de roupas para pré-venda no site da marca em um prazo de 24 horas. Para a realização do projeto, a empresa montou um grupo composto por cerca de 120 profissionais que atuam nas áreas de estilo, logística e coolhunting - que em português significa “caçar tendências”.
As 100 peças das coleções diárias serão criadas a partir da coleta de informações, nas redes sociais, sobre as preferências dos clientes e os desejos de consumo do momento. Estratégia que tem os jovens como público principal, incitando o consumismo, através de tendências. Antes de anunciar a criação e pré-venda de peças em 24 horas, a C&A já tinha a “Mind7” que toda semana disponibiliza uma nova coleção no site e nas lojas.
A designer e jornalista de moda, Jéssica Alves, alerta que o novo projeto da empresa vai contra a necessidade de prática da compra consciente, ao incitar compras no calor do momento. “[A empresa] não dá nem tempo para a pessoa pensar se ela precisa daquilo e passar por todos aqueles passos que a gente faz, pra ver se precisa comprar um determinado produto. É só compre! compre! compre! e depois, muito provavelmente, descarte!”, observa.
Para a designer de moda, a atitude da marca ao implantar o projeto no mercado também gera a exploração da mão de obra, principalmente dos funcionários da base da cadeia de produção, além de eximir a criatividade do processo de “concepção” das peças. “Isso mata a criação, não vai ter criação ali, vai ser só cópia. Viu no Pinterest, copiou, vendeu. Então, em um processo em que tudo é tão rápido não tem criação, não tem espaço para processo criativo”, comenta.
Como outra consequência negativa do projeto, a jornalista evidencia o desgaste mental que esse ritmo de produção pode acarretar nos funcionários. “[Será estressante] para todos os profissionais que estão envolvidos ali, desde costureiras, modelistas... Vai ser um caos. Trabalhar com moda já não é fácil, todo mundo sabe disso, agora imagina em condições assim?”, ressalta.
A recente atitude da C&A reflete como anda o comprometimento da marca com a sustentabilidade. Como as lojas de departamento incitam o consumismo - e consequentemente o alto nível de descarte - é comum que a mídia tradicional e figuras importantes no cenário da sustentabilidade apontem que a solução para o problema consiste em boicotar essas marcas, deixando de consumir seus produtos. Atitude que não se encaixa na vida de todos os brasileiros, e que embalada nesse discurso elitista pode afastar as pessoas de práticas sustentáveis por acharem que hábitos menos danosos ao meio ambiente são muito custosos.
Pensando em abordar a sustentabilidade, de acordo com a realidade para a maioria das pessoas brasileiras, a designer e jornalista Jéssica Alves foi convidada a colaborar com outras perspectivas, reflexões e possibilidades sobre o assunto.
Clique no link abaixo para assistir ao vídeo da entrevista com Jéssica Alves:
Sobre a entrevistada:

Jéssica Alves é Bacharel em Design de Moda, pela Universidade Veiga de Almeida, e jornalista de moda, com foco em moda sustentável. Com passagens por veículos como Fashion Network e Mequetrefismos, Jéssica atualmente trabalha como jornalista freelancer para a revista Elle Brasil, onde produz conteúdos de moda relacionados à política e cultura, além de produzir conteúdos sobre moda no próprio perfil de Instagram e colaborar com iniciativas internacionais.
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